Portugueses com história na Guiné (1)




“Esperança é a última coisa a morrer”


João Marques Dinis, 70 anos, vive em Bafatá há quase meio século. Conhece todos os cantos da cidade e trata todas as pessoas pelo seu nome. Fez tropa na Guiné-Bissau, apaixonou-se, casou em Portugal, fez as malas e voltou. Hoje, divide o seu tempo a gerir a escola de condução e o restaurante no centro de Bafatá. Nunca quis regressar ao lugar onde nasceu, em Caldas da Rainha. Por aqui vive com a esposa e os amigos, muitos amigos, portugueses e guineenses. “Cheguei como militar em 1963 e depois de cumprir a comissão de serviço fiquei como funcionário público na administração do porto de Bissau. Em 1968 comprei logo a escola de condução e a seguir fui abrir outra escola em Gabu [antiga Nova Lamego]. Após o 25 de Abril instalei-me definitivamente em Bafatá e por cá fiquei. Raramente vou a Portugal. Só lá fui há tempos devido à morte de um filho”. A esposa Célia está à mesa e emociona-se. A conversa voltou ao ponto de partida: “Os negócios por aqui estão parados. Na escola de condução tenho muitos alunos, mas todos têm dificuldade em pagar. Chegam a estar meses e meses à espera do dinheiro enviado pelos pais. A esperança é a última coisa a morrer”.
Quando pergunto as razões pelas quais até agora não teve vontade de regressar à aldeia onde nasceu, João Dinis tem resposta pronta: “Ao princípio ainda tive saudades. Depois, fui-me habituando a viver com esta gente e fiquei agarrado à Guiné. Não sei muito bem explicar. Ainda sonho um dia voltar às Caldas da Rainha”.
Quanto ao futuro, qual palavra mágica empregue todos os dias por estas bandas, o português mais guineense mostrou-se céptico. Com esforço vai acreditando em dias melhores, mais ainda, devido ao anúncio das eleições marcadas pelos militares possam trazer de volta a desejada paz, progresso e bem-estar social. “Gostava que este povo fosse mais feliz. Só a ambição e o poder têm travado o desenvolvimento do país. Mas o futuro só a Deus pertence”.
Entre o passado e presente ficou uma imagem para sempre: “Bafatá foi um pequeno paraíso. Não faltava nada, as casas estavam abertas toda a hora, a cidade cheia de gente às compras, comerciantes de várias nacionalidades. Não sou saudosista, antes sinto mágoa pelo facto da cidade ter chegado ao ponto que chegou. Como foi possível?”. O silêncio traduz estados de alma e talvez não exista uma só resposta, antes muitas respostas perante o cenário devastador da cidade, nem uma só rua digna desse nome, antigas casas de arquitectura colonial abandonadas, outras destruídas, um hospital a viver da solidariedade internacional. Só o Geba está nas margens.

Comentários

  1. Amigo João Marques também fiz parte da minha tropa em Bafatá após ter participado na operação tridente na Ilha do Como, onde por lá fiquei no Cachil cerca de onze meses, com uma pausa em Bissau decorria então o ano de 1965, mas o que me leva a escrever este comentário era um menino negro que foi baptizado com o nome de Domingos Vaz, foi adoptado pelo batalhão 757 mais conhecido pelo 7 de espadas será que o senhor que é do meu tempo me poderá dar notícias deste menino agora de certeza se fizer parte dos vivos é um homem com seus cinquenta e tal anos.
    Sem outro assunto de momento receba os meus cumprimentos com os meus antecipados agradecimentos.
    Colaço.

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  2. Gloria eterna por Dinis eu vivo em Guiné Bissau paz a sua alma eu sinto mesmo

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  3. Estive em bafatá anos 80 a trabalhar pela empresa acta frequentei a casa do sr Dinis era de lá que telefonava para os meus pais para lisboa .Cumprimentos saúde e muita força.

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