Casa de Chá abandonada e vandalizada


Não foi preciso consultar os astros, muito menos um qualquer vidente para prever o saque e roubo cometidos na Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, junto ao mar e da famosa capela de Boa Nova. Abandonada há mais de um ano pela Câmara Municipal de Matosinhos - , a mesma autarquia que, ao longo dos tempos promoveu para turista ver a bonita peça de arquitectura desenhada pelo prestigiado Álvaro Siza Vieira - , não soube, no entanto, acautelar em tempo útil as necessárias obras de remodelação deste edifício classificado como monumento nacional.
Como não existiu qualquer sistema de segurança o resultado está à vista: telhas arrancadas, coberturas de cobre roubadas, vidros partidos. Até os sofás levaram sumiço. Numa palavra: o vandalismo foi mais forte que a retórica, as promessas de requalificação. De quando em vez lá foram surgindo piedosas intenções: Queremos que a Casa de Chá “obtenha uma estrela Michelin e se coloque no roteiro gastronómico mundial”. (Declarações do presidente da Câmara Guilherme Pinto, à Agência Lusa, 16 de Março de 2011) “Estávamos à espera que terminasse a concessão (…) e quando isso aconteceu resolvemos fazer uma revisão do equipamento para avançar para as obras de requalificação. Queremos que a qualidade arquitectónica se equipare ao serviço e por isso mesmo precisamos de fazer obras de conservação”, precisou o autarca de Matosinhos.
O tempo passou e nada aconteceu. Anteontem, em declarações à Antena 1, o arquitecto Siza Vieira exprimiu “desgosto e tristeza” pelo abandono da Casa de Chá da Boa Nova e afirmou já ter entregue o projecto de requalificação do edifício. “A Câmara ainda não fez o contrato, mas eu fui arrancando com os estudos”, esclareceu Siza Vieira. Será por falta de verbas – como algumas vozes sustentam - que a Câmara ainda não arrancou com a empreitada prometida em Março passado? “Neste momento não se discute se há ou não dinheiro, mas quando vão ser iniciadas as obras”, reagiu, em entrevista à Antena 1, Fernando Rocha, vereador da Cultura da Câmara de Matosinhos.
O mistério das obras previstas e sempre adiadas até agora adensa-se, mas não serão, certamente, 500 mil euros que vão atrapalhar as finanças da Câmara. Será outra coisa qualquer que o astuto Sherlock Holmes irá desvendar. Para quem sofre de miopia ou partidarite aguda lembre-se um facto inédito na história do Poder Local: em 2011, a mesma Autarquia estava disposta a comprar, isto é, com o dinheiro dos contribuintes, dois estádios de futebol pela bagatela quantia de quase 7 milhões de euros. Afinal há dinheiro. Sherlock Holmes diz-nos que as obras vão começar "brevemente".

Crónica publicada hoje (3 de Agosto de 2012) no semanário GRANDE PORTO

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